FRANCISCA IZIDORA GONÇALVES DA ROCHA
( Brasil – Pernambuco )
( 1855 – 1918 )
Poeta, jornalista, cronista, tradutora, escritora e conferencista. Integrou a "Officina Litterária Martins Junior", do Grêmio Jaboatonense Seis de Março. Colaborou com os jornais recifenses: Diario de Pernambuco (1901), Correio Pernambucano (1868) e A Província e dos periódicos: O Phanal e o Commercio, ambos do interior do Estado. Em 1902 colaborou também com a revista "O Lyrio", dedicada às questões femininas. Foi sócia correspondente da Academia Pernambucana de Letras. Ao lado de outras combativas e atuantes, tais como Edwiges de Sá Pereira, Leonor Porto e Maria Amélia de Queirós, lutou em prol dos direitos das mulheres. É autora de um drama lírico em três atos e de duas traduções de Byron (inéditos), assim como outras diversas produções em prosa e verso. Consta no livro: Pernambuco, Terra da Poesia (Campos e Cordeiro, 2010, p. 586), que autora publicou um livro de versos, "Açucenas" e um volume de textos em prosa, "Distrações e Lembranças". Foi tradutora de vários autores. Publicou também "Ursula Garcia" (1905).
Biografia extraída de:
http://www.domingocompoesia.com.br/2000/01/francisca-izidora-goncalves-da-rocha.html
CAMPOS, Antonio; CORDEIRO, Claudia. PERNAMBUCO, TERRA DA POESIA - Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Recife: IMC; Rio de Janeiro: Escrituras, 2005. 628 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
CENA CAMPESTRE
Em dourados salões, ao som da orquestra,
Entre harmonias, perenal rumor.
Mortal veneno nos corrompe as crenças...
É só no campo que se encontra o amor!
Era ao cair da tarde. — Eu divagava
À margem de um riacho cristalino,
E as auras perpassando pelas balsas,
Vinham cheirosa, modulando um hino.
Gentil cabana divisei ao longe,
Como um berço florido dos amores...
E o cafeeiro, com seus frutos róseos,
Juncava a relva de alvacentas flores.
Além,, a roça, o canavial espesso,
Como um verde lençol cobria o prado;
Uma planta de fumo no terreiro,
Parasitas azuis sobre o telhado.
Rosas, manjericão e bananeiras,
A par dos bem-me-queres vicejavam,
E à fresca sombra do ingazeiro curvo
Diamantinas cascatas borbulhavam.
Rosa habitava ali, por entre as selvas,
— Rosinha, a fada desses prados belos...
Saia de chita, cabeção de rendas
E um cravo branco oculto entre os cabelos.
Diríais uma Driáde erradia,
Astro banhado em divinais fulgores;
Ossian talvez sonhara assim Malvina...
Riso nos lábios e no seio amores.
Rosa estava sentada no batente
E no seu colo uma criança ria,
Tinha ao lado um balaio de costuras
E aos pés um cachorrinho que dormia.
Em pé, na porta, prazenteiro e alegre,
Um camponês gentil, — o esposo dela;
Olhos negros e crespos os cabelos
Molduravam-lhe a fronte altiva e bela.
Na campina — rosadas borboletas —
Duas lindas crianças que brincavam,
Riam-se, e o riso de seus lábios frescos
Repetiam-me as brisas que passavam.
Que cena bela! que mimoso quadro!
Rubens pintando a vida à luz do amor!
O rio e as selvas murmurando trenas,
Em festa o campo, a natureza em flor!
A casa era pequena e tão bonita,
Coberta de sapé e trepadeiras...
Crendo ser algum ninho em meio às flores,
Passavam nela as aves prazenteiras.
Sob os galhos flexíveis dos salgueiros
Cantava a juriti canções saudosas...
Juntava a voz ao murmurar da fonte
E ao ciciar d´aragem sobre as rosas.
Meu Deus! quanta ventura neste quadro,
E como o coração fala de amores!
Que estrofes lindas de um poema d´ouro!
Que lindo prisma de animadas cores!
(In Escritoras Brasileiras do século XIX, p. 761)_
ILHA DE CORAL
Lá nas plagas de flores e harmonias
No seio azul da Polinésia linda,
Aonde as auras embalando os sândalos
Sacodem ramos de fragrância infinda...
Onde as palmeiras no cetim das nuvens
Entrelaçam gentis frondes rendadas,
E à laranjeira os rouxinóis se aninham
Cantando idílios nas manhãs douradas.
Num quadro belo sobre o mar pacífico,
Como a gaivota em transparente lago,
A ilha de Otaiti surge graciosa
Sorrindo às vagas no amoroso afago...
- Vênus formada num frouxel d'espumas
Da luz d'aurora em em divinais fulgores...
Orna-lhe o cinto de corais e pérolas...
No colo airoso desabrocham flores!...
Lá onde a natureza é um poema
E os céus estrofes cintilantes d'oiro...
Um dia Eles chegaram com as aves,
Que voam ledas para um fruto loiro...
No declívio relvoso da floresta,
Entre murtas, ao pé da cachoeira,
Teceram de aloés uma cabana
Enastrada com folhas de amoeira.
À sombra dos bambus passava arinda
No róseo lábio narguilé cheiroso...
E entre as rendas da saia se mostrava
Indiscreto e faceiro o pé mimoso...
Soltas as tranças perfumando a brisa,
E o peito em ondas d'infantil prazer,
Como a gazela do deserto Assírio
Inocente e gazil sempre a correr...
Depois cansada, vacilante, trêmula,
- Borboleta de amor – mole, indolente
Ia de amante descansar nos braços,
Bem como a estrela no sendal d'Oriente!
Que floridas canções pela espessura
Entre risos e amor cingindo a vida!
Como era belo o pensativo poeta...
- Novo Rinaldo nos jardins de Armida!
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De tarde, nas canoas d'insulares,
Com bandeiras de juncos e plumagens,
Corriam sobre as ondas do oceano
Às vezes a pescar como os selvagens.
Que transportes de amor em doce enlevo!
Que cena bela de risonhas cores!
Eram dois gênios que passavam rindo...
— na quadra festival mais dois cantores!
*In Pernambucanas ilustres, 1879, p. 180-181
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Página publicada em setembro de 2022
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